17 dezembro 2010

O perdido – Capítulo III

Parece que toda vez que não dá pra piorar as coisas pioram. Pioraram. Agora P. está sentado no Campo da Pólvora chorando. E o céu resolve se juntar a ele. Chove. Torrencialmente. Salvador é um dos poucos lugares que combinam de maneira tão incômoda chuva e calor.

P. corre até a marquise do fórum e se protege como pode daquele pé d’água inesperado.

Corre, filho! Cuidado para não se molhar! Ali, vamos para aquela marquise ali! Pronto, agora a gente espera a chuva passar. Você se diverte, hein? Danadinho.

Que fora aquilo? Um lampejo de memória? Algo lhe dizia que sim. Mas quem eram aquelas pessoas? Não sabia o que intuir daquela imagem mental que fora desencadeada... pelo quê? Talvez pela corrida até a marquise. O fato é que pelo menos parte de sua memória – uma parte pequena, é verdade – estava voltando. Mais cedo ou mais tarde lembraria de tudo.

Mas quanto tempo mais tarde?

O nosso perdido acha melhor tentar passar pelo maior número possível de lugares para ver se lembrava de mais alguma coisa. Mas, por onde começar? Vamos ver... onde ocorrera a cena de que lembrara? Tinha um farol... Bem em frente ao prédio onde se abrigara... Um farol...

A chuva passa. P. segue até o ponto de ônibus e observa as placas dos veículos. O itinerário. Está prestes a pedir informação àquela senhora com rosto vagamente simpático quando lê: Avenida Sete, Farol da Barra, Ondina... Só pode ser isso. O farol de sua – única – lembrança era o Farol da Barra. P. pega o ônibus e parte em busca de memórias.

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