14 dezembro 2010

Cigana

Dia chaaato! Nada ocorre a não ser o de sempre. Sempremente o de sempre. Sair de casa, pegar condução até muito longe. Suportar aqueles adolescentes que não querem ouvir a aula que você não quer dar. Sabe? O mesmo de sempre, como sempre.

Saiu da escola e foi esperar sentado na praça mixuruca o buzu. Olhava para todos os lados, como se isso pudesse apressar o tempo que se esquecera de sua função: passar.

Daí que viu. Na curva da estrada, felizmente asfaltada, um esvoaçar alaranjado. Um vestido de cigana. E com uma cigana dentro. Melhor: um vestido andando sem cigana poderia parecer meio estranho.

Na maresia da tarde daquele fim-de-mundo a figura da cigana era inesperada. Mas como inesperada? Havia uma comunidade cigana bem ali perto. De qualquer forma, porém, espantava-o a cigana e sua destreza ao segurar as suas sacolas caminhando suavemente, alaranjadamente, pela tarde azul. Levando com seu rebolar característico as compras e quase todos os poucos olhares disponíveis.

Pensou em segui-la, conversar, saber quem era e tudo o mais. Mas que nada: e estragar aquele evento? O único do dia que realmente merecia esse nome? Limitou-se a olhar... Olhou para ela até que sumisse, dobrando a esquina em direção ao acampamento.

Mas o esvoaçar alaranjado na tarde azul ficou, pairando no ar, acontecimento vibrando como uma corda de violão quando é ferida aleatoriamente.

Buzu chegou e ele se foi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário