- Só doido pra falar contigo! Tu só entende conversa de doido, mesmo!, explodiu o já impaciente marido de Marietta.
Escrito assim, com dois tês. “Coisa da minha mãe”, dizia ela, orgulhosa. O fato era que, coisa de mamãe ou não, ela adorava acrescentar, após dizer o nome: “É com dois tês, viu?”. Marietta era mesmo meio doida. Mas nada do que Paulo a acusava era verdade de todo, embora não fosse de todo mentira. Pois Marietta era dessas mulheres que têm segredos.
Não que tivesse de esconder alguma coisa. Guardava segredos pelo simples prazer de ter algo que lhe pertencesse, que fosse dela e de mais ninguém: um segredo, enfim. Eram quase sempre coisas banais: um pequeno produto comprado sem que o marido soubesse, uma travessura de pequena que não contara a Odete ou que estava grávida de dois meses.
Somente uns dias depois de descobrir a gravidez é que percebeu a impossibilidade de guardar por muito tempo um segredo que literalmente saltaria aos olhos em pouco tempo. Teve de contar, meio contrariada de dividir isso com Paulo. Lá vinha ele subindo a infinita ladeira que o levaria para casa, o último casebre no alto do morro, com vista exclusiva para a praia de Tubarão...
- Mô, começou ela.
- Diz...
Mau sinal. Mau humor numa hora dessas?
- Eu queria te falar uma coisa.
- Já está falando, Marietta.
Xii! O negócio tá feio.
- Tô grávida e tô sabendo há umas quatro semanas já.
Como se fosse a coisa mais normal do mundo. Aí, já viu, né. Por que eu sou o último a saber, você esconde as coisas de mim, e bá-bá-bá, caixa de fósforo. E Marietta lá: com aquela cara de quem não fez nada demais. E Paulo queria explicações. Mas ela nada disse. Estava certa de que não havia mais o que dizer, pois não já havia revelado a gravidez? Agora tinha de dar explicações?
Mas Paulo estava muito mais retado do que Marietta pensava. O que mais ela escondia dele? E foram surgindo desconfianças... Dias depois não houve dois tês nem barriga que segurassem Paulo. Ele desceu a infinita ladeira e não voltou mais. Coisa de doido!