24 julho 2012

O absorvente


Tudo começa com um pedido simples. Ao menos aparentemente simples, uma vez que o conceito de simplicidade não coaduna com a ideia de comprar absorventes:


- Vai ali no supermercado pra mim? Preciso de absorventes...

O filho, ou marido, ou namorado, ou ainda, quem sabe, aquele amigo bem próximo e por isso mesmo sofrido, coitado, enche-se de coragem e vai, resoluto até a mais temida de todas as seções do supermercado. E lá, entre inocentes lenços de papel e cremes dentais estão eles.

Qualquer homem, ou qualquer mulher com um mínimo de piedade no coração, vai entender a confusão mental em que se encontra o intrépido rapaz prostrado diante daquele mundo de pacotinhos plásticos. Porque absorvente não é como barbeador, que você escolhe pela marca e, no máximo, pelo número de lâminas. Não senhor, nobre colega, o pobre-diabo está neste exato momento frente a uma profusão de opções cuja razão de existir que ele não faz ideia. Tem aquele com abas, o sem abas, o noturno, o diurno, o de fluxo intenso, o com camomila... Alguns tem vincos para direcionar o "fluxo" sabe Deus pra onde. Outros tem um gel que nem Ele imagina pra que serve...

E como se não fosse o bastante, ainda é preciso aguentar a pressão da sociedade. As mulheres ao redor, conhecedoras que são do processo impossível de comprar aquelas almofadinhas brancas, apanham as de sua preferência de olhos fechados. E o pobre está ali, humilhado, tentando entender qual relógio diz para o absorvente diurno parar de funcionar porque já está de noite.

Finalmente ele se decidiu: vai levar aquele sem abas mesmo. Porque ser tão aerodinâmico se, até onde se sabe, nenhum absorvente foi feito para voar? Nosso amigo apanha resoluto o pacotinho e se dirige ao caixa, onde seu tormento terá fim. Só que muito ao contrário.

A moça do caixa é tão simpática, dá boa tarde, pega a "mercadoria" e pensa, mas não diz: "É claro que ele precisa de ajuda..." Depois ela diz, mas não pensa nas consequências que isso acarretará:

- Tem certeza que é essa marca que ela usa? É porque essa não é muito boa...

Pronto. Toda a certeza do mundo foi pelo ralo. Cabisbaixo, ele volta ao reino dos absorventes para verificar, vermelho de emoção, que existem cerca de vinte e cinco mil marcas, cada uma com suas abas, seus níveis de fluxo (por que "fluxo"? Juro que quando ouço isso imagino uma cachoeira hemorrágica sugando toda força vital da mulher), seus agentes naturais, etc, etc.

A essa altura, nosso amigo já está se perguntando se vale a pena viver num mundo em que existem tantos tipos de absorvente. E, a menos que a Divina Providência conceda-lhe o benefício de uma ligação da mulher que aguarda tranquila a compra de "um simples absorvente", a única portadora da resposta para seu enigma existencial, o coitado ficará para sempre diante da esfinge:

- Decifra-me ou te absorvo.

4 comentários:

  1. Meu Deus que trauma foi esse Léo?! Brincadeira, eu amei o texto cara, me prendeu, me divertiu, me enojou, me fez ter recordações de minha infância (me trouxe nostalgia) e é assim que um texto bom tem que ser... Parabéns cara.

    Marcolino.

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  2. Muito bem absorvido pela minha imaginação... Eu prefiro os internos, mas aí o cara estaria mesmo encrencado! Texto muito bem humorado. É assim mesmo!

    Um grande beijo

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  3. Ótimo texto. Imaginei direitinho a cena.

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