Era a tarde de uma quarta-feira e eu já deveria ter chegado ao trabalho. Mas estava de pé, à beira da linha do metrô, a mais de 20 km da sala refrigerada onde deveria estar. Eu vi você pelo canto do olho quando o trem estava chegando: a barba, os braços peludos, o jeitinho de lontra.
Não: de lobinho.
Entrei no vagão. Você sentou na minha frente. Eu te olhei por um tempo e sorri. E, aí, aconteceu. Você sorriu de volta. O espírito de deus vagou pela superfície das águas e fez-se a luz. Eu tirei meu fone de ouvido e você disse “oi”.
Você gosta de pão, eu soube. E cursa Ciências Sociais. E também estava atrasado. Trocamos palavras até a sua estação. Então, você me abraçou. Mas me abraçou muito. Me abraçou tão abraçado que algo de você ficou comigo.
Na minha pele, no meu corpo, na minha cabeça. Tem você em mim até hoje. Uivando baixinho no meu sistema límbico.